A cidade tem os seus, diz.
A prosa torta corta em x
o que quis com o giz dizer
escrita retorcida
expressões em papel de peixe
espinha atravessada
foi extraindo a cidade de si
como os dentes
que ficaram por aí
nas pontas de realidade
fumadas no filtro
o desviu do homem
com sua espiral de nuvem
- uma bolsa nova
para papéis rotos:
( fichário ambulante
acervo de anônimos)
rostos retratados nos bares
lápis convulso no traço
da golfada voam pedras
golfo de palavras
vulcão silencioso que rumina
a própria fala.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Vocês não queiram saber: fui extraviado!
Uma quase abdução sem precedentes, isso
porque depois de dançar um ponto virado
fui sugado pelo oco de um tambor de tronco,
chegando quase a me tornar um tinido.
Por isso demorei.
Nem sempre é assim. Na última vez fui sugado
para o interior de uma burca em pleno bazar afegão.
Senti o hálito quente e a visão do chão. Uma mão
com unhas vermelhas pressionava minha cabeça
para baixo, de modo que ficasse longe da tela de
visão da burca e próximo às coxas. Senti-me
uma refugiado em fuga. Lembrei-me dos 16
decretos do Talibã... agora é trade, pensei.
No interior de uma burca a mulher se anula e
se ausenta, protegida dos olhares, olha sempre
na mesma direção, do contrário tem que mexer a cabeça
e o homem percebe para onde olha.
Senti duas mãos quentes me puxando para cima.
Subi deslizando até encontrar a rede e avistar
duzentas burcas perfiladas. Era o harém
do rei Habibullah em desfile pelas ruas de Cabul.
Com que propósito Deus me teria colocado
em tal situação? E o tempo histórico?
Afinal a burca não era uma máquina do
tempo, ou seria?
Alguém me passou uma coca-cola e uma mão de
nozes de pistache.
Fiquei recolhido ao interior daquela burca
até a polícia religiosa dispersar o grupo.
Fui deixado de cócoras numa esquina,
próximo a uma loja de tecidos.
Ainda hoje procuro lembrar do rosto daquela afegã
por trás do véu da burca.
Agora essa. Sugado para o interior de um tambor
de tronco...“ tambor, tambor
vai buscar quem mora longe...”
Voltei a mim próximo à fogueira,
onde os tambores eram aquecidos.
Acorda menino, não vai te encanta!
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