segunda-feira, 30 de maio de 2011

O tempo de botas



O tempo
com suas botas
de sete léguas,
passos que não alcanço

O corpo busca alento,
a alma cansa
de ser o vento.


O fava contada

Quando um homem alimenta o inimigo com sua ira, sua vitória se distancia. Aponta um dedo, enquanto três apontam para si. O alvo se move e o inimigo se aloja no próprio peito. Ele não sabe, mas o carrega consigo, exaurindo suas forças, turvando a visão, enquanto rumina o ácido do que desejaria ter sido e não foi. Não se combate assim. Há de saber-se cavaleiro além da mira, e que alguns nem merecem serem lembrados, outros, perdoados. O maior inimigo é este que você mira no espelho, afaga, desejando todas as honras, e que não suporta ser contrariado. Quando um homem alimenta um inimigo assim, é fava contada.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Soar do Sou...

Sou o engano
  a mão vazia
  o trem fora dos trilhos
Sou a trilha na mata
  a alça de mira
  o estampido
Sou o ar do tísico
  o risco Brasil
  o precipício 
Sou a tinta de Volpi
  o pintor de parede
  a volúpia da carne
Sou a arte
  a trégua do tempo
  o passatempo
Sou o pó da cal
  a casa em ruína
  o musgo do sonho
O que não sou
  não importa,
  mesmo que você diga.
Sou a figa
  a figura rasgada
  a fissura
Sou a fresta na porta
  a resta de sol
  o olhar no escuro,
Sou o terço bizantino, a reza
  o desespero da fé
  a esperança cristã
  a caridade das almas
Sou a chama que apaga
  a mão que afaga
  o açoite
Sou o grito contido
  o sopro no ouvido
  o pro e o contra
  o desafio
Sou o discurso ilusório
  o curso do rio
  a verga latina
  o assobio
Sou a margem da margem
  o sumo da língua
  a pedra no caminho
  a pegada
Sou a espada de Ogum
  o fio da navalha
  o filho de Oxum
Sou mã-pai
  a folha que cai
  o ai da dor
  o outono.
Sou.