quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fora de tempo

Tenho me virado como posso
todos esses anos – quantos?
Que importância tem
tardes, manhãs, ossos noturnos
estendidos.
A cidade, alvo predileto
é um elo perdido.
Do avesso, olhos não lidos
flertam com o umbigo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Costas largas

Escarafacho tirou a medida e viu
que não possuía. Fora das medidas,
fora dos padrões, tinha que arcar
com a responsabilidade de não ter
sombra, a não ser aquela que todo
mortal um dia teimou em pisar,
brincando com o sol. Sombra para
fazer de conta que trabalha, para
achar que tem mais direito que deveres,
essa ele não possuía. E achava indecente
favorecer-se de um expediente próprio
do desprovido de capacidade e méritos.
Afinal, ser parente ou afilhado
de alguém influente e beneficiar-se,
soprando aos quatro ventos que isso lhe
garante um passaporte à preguiça e
impunidade, é meio caminho à delinquência
constituída.
Escarafacho bateu o ponto na repartição
e foi atender o primeiro chamado.
Uma onda de parasitas tinha invadido a
sala de combate às traças. Todos vinham
com indicação de suas poderosas sombras
procriadas in vitro.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pátio de manobras

no vagão da infância
tudo parecia nos trilhos

vieram as manobras
no pátio das estações

vagos destinos,
no verde da blusa
todos éramos esperança

maquinistas,
com sonhos movidos
à lenha.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Rosas na Paulista

Expostas no vão
do vã abrigo do corpo
em ponto morto
rosas vestem fuligem.

Fui

Palavras carregadas
de flores do cerrado,
barro vermelho,
grama amarela.

Árvores retorcidas, casca grossa
sombra rarefeita.
Na chapada um corisco risca
o caminho de casa:

O vento seco corta em fatias
o abraço.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Texto perdido

Hoje, eu e você perdemos para a máquina.
Depois de longo tempo convencendo palavras
a expressar sentimentos e fatos e eventos,
ela simplesmente se ausenta e me deixa
escrevendo para o vento. Perdi tudo.

Perder coisas ditas não é como não dizer.
É como um desejo que se realiza
ao mesmo tempo que nos frustra.
Aquela peça tirada não se sebe de onde, retorna
para um lugar entre a lembrança e a ilusão de ter sido.
Aquela verdade nascida de uma intuição veloz,
perde-se do tempo real, e em busca do tempo perdido,
torna-se conceito, onde o ritmo a escraviza para realizar
aquilo que já não é , mas que quer
voltar a ser... Chega! Perdi.
Mas ganho agora, dessa maneira, descrevendo como é
não ter sido, não ter alcançado a finalidade do texto.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Retorno

Assim como foi
veio, de trás pra frente
partido ao meio

correndo como corria
não seria
o último a saltar

laço de fita
em dia de festa
peça de arreio.

Rascunho salvo automaticamente

Passar do ponto é rotina do sonolento.
Outro tento é achar que no ponto em que se
encontra é um desatento.
Todas as medidas parecem exatas
quando não existem dúvidas.
Ausentar-se pode parecer apenas
fechar os olhos, como sonhar pode
fazer a diferença.