quarta-feira, 23 de março de 2011

Café no ponto

O burburinho da cidade
passa por sua mesa
sem mover uma página:
os arautos com seus atos,
as damas com seus saltos.
Ele permanece incógnito,
lendo as pedras de granito.
Lao Tsé disse:
Quando estamos contentes
possuímos todas as coisas do mundo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Escarafacho, O Taoísta Mambembe




Escarafacho, depois de encontrar num velho sebo um livro de Pound, e de ler, numa tradução de Mário Faustino, “ ANTIGA SABEDORIA, UM TANTO CÓSMICA”,um legitimo Rikaku de Li-Tai-Po ,que Pound “verteu, convertendo em poesia moderna”o texto chinês, pensou que poderia, como So-shu sonhou,”para que procurar sentir-se como qualquer outra coisa”. Sua satisfação não foi a mesma do sábio, mas ele se deu por satisfeito assim mesmo.
Algo parecido já tinha acontecido em outro momento, quando Escarafacho encontrou Fritjof Capra meditando sobre a Dança de Shiva, o Deus hindu dos dançarinos. Escarafacho estava tomado pelos ensinamentos de Dom-Juan, o bruxo de Castañeda, e os dois, por um momento, viram “os átomos dos elementos – bem como aqueles pertencentes ao próprio corpo – e participaram da dança cósmica”.

Escarafacho costumava me ligar no meio da noite para falar de estrelas e de sonhos, que para ele, eram reveladores e apontavam saídas. No início eu achava tudo aquilo uma grande viagem. Depois percebi que era a sua maneira de estudar física quântica. Por volta do meio dia ligava novamente para pedir que eu esquecesse tudo, que nada valia a pena. E mesmo que eu argumentasse , que muita coisa fazia sentido, ele não si dava por vencido. Desligava o telefone e desaparecia. Ele estava convencido de que suas palavras jamais revelariam suas verdades. Era um taoísta mambembe.

Terça-feira de carnaval, no meio da rua, tirando a máscara de Queixa que levou para a Avenida Gov. Chagas Rodrigues, ele consegue um sinal da TIM e me liga, dizendo que está de partida para o Japão. E que eu pensasse nos hai-Kais, no Ritual do Chá, em Hiroshima e nas placas tectônica em movimento. O ocidente cairia sobre os penicos. O sinal caiu.




Li no jornal de hoje que o Piauí entrou na disputa para sediar uma usina de energia nuclear. Todos os Estados do Nordeste estão na disputa. O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo. Tomara que tenha o correspondente em juízo. A Alemanha já está revendo sua política no setor.

Escarafacho uma vez me disse: nossa competência é radioativa, e sofre de uma corrosão natural, não podemos brincar de usinas e reatores. Melhor é pedir a saideira.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A rabeca nanheta do Caga-dinheiro







Escarafacho pensou: mascara é um negócio bacana. Você pode ser outro sendo você por dentro. À medida que você encarna o personagem seus atos são do outro, é o outro que se ocupa de você para viver a fantasia de ser você outra criatura.
Diante do tabuleiro cheio de possíveis personagens a partir de simples objetos, ele continuava sua leitura sobre a possibilidade de transformar-se, quem sabe, ocultar o seu eu sob um rosto artificial, ou de maneira evidente expressar traços estereotipados do seu caráter. Mas ele queria mesmo o espetáculo da vida, saiu sem levar nada.
Enquanto caminhava por calçadas congestionadas de mascarados anônimos, ambulantes representando seus papéis, Escarafacho observava as vitrines com seus tipos característicos, provocando impulsos e desejos. Desejou ser Jano, com seus dois rostos contrapostos, olhando para dentro e para fora, vigiando as portas, o bem e o mal na mesma moeda. Mas Jano, uma quase rito de passagem, virara janeiro, onde todo recomeça, inclusive os sonhos de ser diferente. Não dava. Não era o caso.
Um elefante não me cai bem, pensou. Não tenho vocação para deus hindu. Montaria de soberano, símbolo de poder, sustentar o universo, não. Depois não tenho a temperança necessária para representá-lo, nem vocação para casto. E você me querer num artefato de marfim em sua sala, ou de bunda para sua porta trazendo sorte, definitivamente, elefante não.
Que tal uma máscara de dragão, muitos em um só: serpente, lagarto, pássaro, leão e ainda por cima visto na lua, sob a lança de Ogum. E o que dizer da ilustração do Apocalipse de Bamberg, que eu só sei de ouvir falar. Mas tem aquela coisa da continuidade do caos, principio de Satanás. É melhor não mexer com isso, vai que o bicho pega e me aparece um C.G Jung vendo mitos, lutas regressivas entre o Eu e sei lá que mais.
Escarafacho estava exausto daquela busca. Uma máscara, um personagem que fosse a farsa perfeita para a revelação de sua face obscura. Ele sabia que não seria fácil revelar aquilo que jamais seria. Foi aí que pensou no caga-dinheiro de Goslar, aquilo que jamais seria.Jamais estaria preso ao mundo pelos bens matérias. A cara seria a mesma, apenas as moedas seriam cunhadas sob encomenda. Cara e coroa no mesmo jato de excrementos. Cagando pra sorte.
Às pressas encomendou a um artífice uma geringonça no formato de bunda, e que movida a manivela, como os velhos gramofones, pudesse cuspir tostões, patacas, dólares, euros e reais, sempre ao som de uma rabeca pernambucana com quatro cordas de tripa, tão rangente que ao ouví-la o povo fechasse os olhos e serrasse os dentes. Na avenida só se ouvia os gritos: lá vem a rabeca ranheta do caga-dinheiro.
Escarafacho fez girar a roda da fortuna e se deu por satisfeito. No carnaval é assim: uns cagam, outros correm atrás, filosofou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Escarafacho, no tranco.

Escarafacho, o retorno

Você que acompanhou o Escarafacho até agora vai pensar que é assim mesmo: num momento um transe, noutro um trauma, e mais adiante um tranco. Às vezes é preciso pegar velocidade na ladeira, que é para subir a próxima.Vamos nós.

Você que não conhecia, nunca ouviu falar, vai poder voltar no tempo com um olhar de arqueólogo, investigador do tempo perdido com seu relógio de clepsidra ,sua lupa, seu farol de azeite, e eu estarei lá, tramando contra a inércia, mordendo a língua da serpente na hora do pecado.Coisas que até podem não fazer sentido, se ele existe embota, longe do livre tráfego entre metáforas, essa senhora de mil tranças e encruzilhadas.

Escarafacho é quase um Macunaima, tem no tempo sua resina e nas costas uma casa em ruínas, um navio fantasmas com seus marinheiros sonâmbulos como no conto de Quiroga. Aliás, bom seria ler Contos De Amor, De Loucura E de Morte, do autor, tradução de Eric Nepomuceno, publicado pela Editora Abril.

A gente vai se falando nesse emblog dentro do Portal da Costa Norte, do Piauí,Brasil. E eu que sempre fui um estrangeiro falando um dialeto nagô contra os estupros no Congo.Ou seria aqui mesmo, com toda essa violência contra a mulher? O Pior cego é aquele que não quer... Você já deve ter mudado seu discurso, ou continua achando que tragédias só acontecem na terra alheia,com a mulher alheia, com a alma alheia. Solidário é uma palavra para emprego diário, assim como caminhar, respirar e “todo o amor que houver nesta vida”.